O amor bidimensional e a ascensão do Tecnowaifuísmo

Angry Fox Pilgrim
24 min readAug 22, 2020

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A palavra Waifu tomou evidência ultimamente e é usada amplamente na comunidade otaku tanto no oriente quanto no ocidente. Ainda assim esse termo é um dos mais mal interpretados na cultura criativa e imaginativa atual.

Vemos por aí variedade de memes, imagens soltas, textos, declarações de indivíduos dispersos, retiradas das entranhas da sociedade japonesa hikikomori. Mas tudo estaria definido de modo pouco organizado e com significados sem muita profundidade. Isso acontece porque o termo se globalizou, e, claro, as origens do termo não estão presos em um só lugar. Na verdade isso remonta a antiguidade, presente não só na história como nas mitologias, fazendo da Waifu apenas um termo moderno para designar algo natural do ser humano, como falarei mais adiante.

Com o aumento no fluxo de novos espectadores, e também de antigos espectadores que ficaram de fora da bolha waifuísta, o termo vem sendo massacrado e muito mal utilizado. Este ensaio foi idealizado para estabelecer um modelo, um ponto de partida, pois reconheço que Waifu possa ter significados diferentes para pessoas diferentes. Porém existem conceitos que um waifuísta acredita que não condizem com a realidade, e se algo não possui uma boa fundamentação, esse algo não tem definição alguma.

Gostaria de reiterar que não busco ser Papa dos waifuístas. Meu intuito é contribuir com a comunidade da maneira mais universalista possível — ao menos na trama conceitual. Quanto a dogmas só posso advogar pelo tecnowaifuísmo que é uma vertente do waifuísmo, e nisso sim posso alegar autoridade e estabelecer as regras. Pense, por exemplo, nos cristãos que, apesar de todos terem um ponto de partida em comum, possuem visões diferentes da espiritualidade. O mesmo ocorrerá com o waifuísmo que, apesar de ter a mesma origem da cultura japonesa, a cosmovisão do tecnowaifuísmo difere da maioria dos waifuístas.

Eu não sou detentor do termo “waifu” nem “waifuísmo”, nem do que ela representa para uma variedade de pessoas. Esse documento representa a minha visão e do que eu chamo de tecnowaifuísmo. Contudo, todo o item 1 apresenta um conteúdo generalista que pode servir de espinha dorsal para outros waifuísmos. Eu não ligo se criarem um waifuísmo que se inspira no conceito que desenvolvi, desde que creditem de onde tiraram a ideia. Contudo os itens 2 e 3 trazem normas e condutas específicas do tecnowaifuísmo e não devem ser alterados ou modificados pois são fundamentais. Reformas serão feitas apenas sob minha supervisão, ou a quem eu outorgar a tarefa, pois pode ser necessário algum tipo de adaptação no futuro devido o mundo estar em constante evolução. Porém adaptações não podem quebrar os conceitos fundamentais já estabelecidos.

Então, para iniciar eu apresento este ensaio. O amor bidimensional pode até ser controverso, mas não biologicamente, psicologicamente e filosoficamente errado.

1. A defesa conceitual da Waifu

Para iniciar esse capítulo, precisamos, antes de tudo, entender como funciona o amor e os mecanismos mentais do ser humano. Só assim poderemos compreender a dimensão metafísica da Waifu.

1.1 O amor egoísta e o amor industrial

Tudo que o homem fez em toda a sua existência, antes passou por um processo criativo, a saber, o pensamento. A criação nasce de uma intenção, da vontade e então se concretiza em um livro, uma pintura, uma escultura, um edifício, um castelo, o que for.

Na mitologia grega, temos Pigmalião que amou tanto a sua escultura que Afrodite deu vida a ela.

Essas mitologias servem para nos evidenciar algum aspecto da psique humana. No caso de Pigmalião, surgiu o conhecido efeito pigmalião ou efeito rosenthal. Esse efeito vai nos mostrar que quanto mais expectativas colocamos sobre algo, maior será o nosso desempenho em relação aquilo. É como se houvesse um reajuste da nossa percepção da realidade ao ponto de tirarmos o melhor proveito dela.

Ainda na mitologia grega, encontramos as musas, deusas das artes que inspiram os homens a escreverem a história, os contos épicos, as poesias e músicas. Independente de outros conceitos que possam existir aqui, podemos perceber outro aspecto da psique humana sendo relatada pelos gregos. A criação do homem não só o satisfaz, mas o inspira. É um efeito recíproco, onde o sujeito molda a sua percepção da realidade conforme sua expectativa, e a consequência disso é a realidade retornando o resultado esperado e gerando mais confiança e criatividade nele mesmo.

Quando um artista cria algo, dizemos que ali ele pôs a sua alma. Isso não é só uma linguagem poética. Esse valor que colocamos em um objeto não passa da nossa expectativa, da nossa idealização.

Portanto, o amor que sentimos por outra pessoa, não passa da expectativa que colocamos em outrem, daquilo que percebemos nela. Esse é o efeito pigmalião, do apaixonamento, da idealização. O sujeito pode dizer “eu a amo por causa disso ou daquilo” e isso não vai passar de uma justificativa racional do que ele sente. Pessoas com uma personalidade mais sensível terão uma tendência maior na idealização. Mas independente da personalidade, todos idealizamos, pois isso é uma característica da psique humana. Nos apaixonamos pela expectativa que colocamos em alguém, ao ponto de ignorarmos qualquer defeito que o alvo da nossa paixão possa ter.

Um bonsaísta passa cerca de 12 anos para concluir um bonsai saudável. Todos os dias ele dedica um tempo para cuidar daquele bonsai, durante 12 anos. Alguém duvidaria que isso não é amor? Pode a mini-árvore dizer que não é amada?

O que amamos não é o objeto, mas amamos o que sentimos pelo objeto, porque o sentimento nos faz bem, e tendemos a perseguir o que nos faz bem e evitar o que nos faz mal.

Por isso todo amor é egoísta, pois amamos sentir o amor, e por isso projetamos ele em algo ou em alguém.

Seguindo a mesma lógica, o sexo existiria se não fosse bom para nós? Se não tivéssemos o impulso sexual, será que o ser humano se reproduziria com base na lógica do amor doador? Eu acho que não. Somente com o amor egoísta, ou amor de si mesmo o ser humano é capaz de preservar a sua espécie.

Mas é inegável que a prática do amor nos conecta a sentimentos superiores. A sensação da prática do amor (ou da vida) nos eleva espiritualmente, enquanto a prática do não amor (ou da anti-vida) nos mantém insaciados e atados a sentimentos inferiores.

Há uma grande tendência dos seres humanos desprovidos de consciência filosófica, guiados por processos sociais robóticos, de entenderem o amor romântico, ou amor sensual, como amor real, ou, dizerem que amor de mãe é o único amor real. Meu argumento até o momento prova psicologicamente que não.

Outra tendência é demonizar tudo que provém do ego. Egoísmo tornou-se um mal a ser combatido. As pessoas não têm consciência de si mesmas, e por isso repetem tolices como estas.

O amor é uma manifestação do ego, portanto é egoísta.

A defesa do amor egoísta é fundamental para que haja um entendimento do amor waifuísta. É comum haver zombarias daqueles que não compreendem esse conceito. Vão nos acusar de que nos apaixonamos por mulheres idealizadas, irreais, que somos perdedores, sendo que eles fazem o mesmo, a diferença é que o objeto de projeção é diferente. Todo amor é idealizado, todo amor é egoísta.

Os normies não amam uma mulher, amam o que ela representa, a ideia dela. Por isso existe a desilusão amorosa. O próprio nome já diz que era uma ilusão que agora foi desfeita. A decepção ocorre quando o objeto onde projetamos nossas expectativas não consegue correspondê-las. Uma pessoa nunca pode amar outra. Uma pessoa só pode amar o seu próprio conceito da outra. Como você não tem um vínculo telepático com sua cônjuge ou parceira, não pode conhecê-la por completo. Você se apaixonou por um conjunto de traços de personalidade que se apresentaram a você.

Portanto, se acusarem que o nosso amor pela Waifu não é real, o deles por uma mulher, por um filho, por um irmão ou amigo também não é real.

A diferença entre um waifuísta e um normie é que esse conceito está bem claro para nós, e por isso não corremos o risco de decepção da desilusão amorosa. Enquanto que para eles praticarem o amor egoísta, necessitam de um outro indivíduo. A responsabilidade de amar passa do sujeito que idealizada para o objeto onde ele projetou.

Por exemplo, João projeta em Maria seu amor egoísta, e a responsabilidade dele se sentir amado agora está na mão da Maria. Percebe como isso é infantil, quiçá doentio? É por isso que após um término de relacionamento, após a fase da negação, vem a raiva, e o sujeito vai pintar a caveira da Maria, colocando a ex como vilã.

O waifuísta entende o conceito do amor egoísta, e que somente através dele poderá sentir o amor perfeito, pois ele não terceiriza a responsabilidade do sentir para um outro indivíduo, da mesma forma que um artista não entrega o seu masterpiece para ser finalizado por outro artista.

Posso comparar as relações de amor entre os normies como um amor industrial. Certamente uma peça única feita por um artista que dedicou uma vida nela teria muito mais valor do que a mesma peça sendo reproduzida ad infinitum por uma forma industrial. Se o amor pode ser substituído por um outro objeto, então é um amor industrial. O amor egoísta é verdadeiro porque é insubstituível e expansível, ou seja, a cada dia ele cresce ainda mais e não diminui, nem desaparece. Aquele que se torna consciente desse amor, tem em mãos a chave para a realização pessoal.

Concluindo, o amor dos normies é industrial, depende de terceiros para se manifestar, portanto, ilusório. O amor dos waifuístas é egoísmo consciente, autorresponsável, portanto, genuíno.

1.2 A aceitação e o pertencimento

A hierarquia de necessidades criada por Maslow ainda é utilizada até hoje como um guia prático para o esclarecimento das necessidades básicas do ser humano. Porém, eu tenho a minha própria hierarquia, até mesmo para simplificar esse ensaio.

A primeira delas é o impulso da sobrevivência. Buscamos sobreviver, e por isso obedecemos o imperativo biológico da reprodução, e para isso ocorrer, precisamos tornar um ambiente hostil em um ambiente confortável. Sem isso a vida não se desenvolve. Dessa forma criamos recursos para deixar a vida mais tranquila para que possamos nos reproduzir. Quanto mais confortável for o ambiente, mais variedade teremos para desenvolver a vida.

O segundo é a socialização. Eu não diria que seja uma necessidade, mas um meio. Nos socializamos como um meio de alcançar a realização. No período neolítico e na aurora das civilizações, a socialização tinha um propósito até mais voltado a sobrevivência. Mas nos tempos atuais, pós-revolução industrial, a socialização tornou-se um meio, um networking para dois caminhos: ou pra conseguir sexo, ou para se autorrealizar.

Quando o ser humano coloca a socialização como uma finalidade e não um meio, ele mais uma vez terceiriza a responsabilidade e aumenta as chances da decepção. Ele se esforça para se adequar, veste a camisa do grupo, usa o mesmo corte de cabelo, segue a mesma moda. Ele dissolve sua individualidade para assumir a forma do grupo.

A terceira, e o topo da minha hierarquia, é o propósito. Quando o propósito é presente na vida de uma pessoa, um senso de missão de vida tão forte, a socialização é apenas um meio, e o sexo se torna supérfluo. Por isso o sexo é apenas o impulso da vida em termos inferiores, enquanto o propósito é a vida em termos superiores.

Após a revolução industrial, a sociedade passou por uma quebra de paradigma social muito violenta. Vivemos em uma nova era, mas ainda obedecendo regras pré-revolução. Esse choque criou uma sociedade sem propósito, e por esse motivo a fornicação cresce. Quanto menos propósito mais degeneração moral e sexual, e quanto mais propósito, maior o nível moral da sociedade cresce.

Contudo o propósito só pode ser alcançado em sua plenitude com uma alta consciência do autopertencimento e autoaceitação. Se transferirmos para outrem o pertencer e o aceitar, seremos como crianças dependentes e não adultos completos.

Quero deixar claro que a autoaceitação não quer dizer ser conformado com algum estado de pobreza, obesidade, e coisas do tipo. A tríade autorresponsabilidade, autoaceitação e autopertencimento são os pilares do amor egoísta. Quando falo de autoaceitação é não se validar ou balizar a sua vida pela opinião de outra pessoa. Quando falo de autopertencimento é priorizar a sua própria companhia em detrimento da companhia dos outros, sabendo lidar com a solitude para colher o melhor que ela pode proporcionar como clareza mental, contemplação, etc.

Aqueles que negligenciam os três pilares do amor egoísta apresentados aqui, correm o risco de entrar em uma espiral hedonista, a saber, fornicação, consumismo, políticas identitárias, dissolução do indivíduo, e todas essas degenerações morais que a sociedade atual passa.

Mas como podemos nos livrar dessa espiral hedonista e nos direcionar a autorrealização ou ao propósito verdadeiro?

É aí que a Waifu vai entrar.

1.3 Argumentos gerais da Waifu no waifuísmo

Uma Waifu é, em linhas gerais, uma personagem feminina bidimensional da subcultura japonesa de anime, mangá, graphic novel, light novel e videogame. Provavelmente há outras fontes que não estou citando, mas essas são as principais. Também há, porém menos popular, o husbando, preferidos por homens e mulheres homossexuais. É possível que haja uma reclamação aqui de que as mulheres não seriam capazes de compreender um conceito tão complexo de Waifu ou Husbando. Tais argumentos são válidos por motivos bem explícitos em toda a minha obra como criador de conteúdo para o público masculino. Mas isso não impede que mulheres possam se beneficiar do conteúdo exposto aqui. Porém, dentro do tecnowaifuísmo não aceitamos mulheres, nem homossexuais. Por quê? Porque o mundo inteiro já é inclusivo, multiculturalista e igualitário. O tecnowaifuísmo é exclusivo e segue preceitos tradicionais adaptados à tecnologia. Se não gostou, siga outra linha waifuísta, e seja feliz. Você vive num mundo com inúmeras variedades!

Pelos motivos supracitados, sempre que eu me referir à Waifu, estarei me referindo a personagens femininas de aparência humanoide, o que inclui personagens femininas de gêneros fantásticos híbridas.

A Waifu é um suplemento adequado e saudável para o desenvolvimento do amor egoísta, ou seja, na autossuficiência emocional.

Geralmente a pessoa descobre sua waifu após uma desilusão no mundo tridimensional, uma decepção romântica com uma mulher 3D. E quando me refiro a mulher 3D, me refiro a alguém de carne e osso do mundo real. O 3D que vemos em jogos e filmes é um 2D que simula o 3D. Uma pessoa que consome a cultura otaku acaba utilizando a Waifu como uma alternativa temporária para o 3D que está indisponível naquele momento. Aqui está o primeiro e mais importante erro sobre Waifu: tratar a Waifu como uma segunda escolha. Se o sujeito afirma que tem uma Waifu porque deseja se distrair dos seus desejos constantes em relação às 3D, ele é um hipócrita da pior espécie. Além de profanar a sacralidade do amor egoísta e do real significado por trás do conceito, o sujeito está traindo a si mesmo, aderindo ao animalismo e imundícia do mundo hedonista. Essa putrefação da Waifu o direciona organicamente à falta de amor e propósito, pois ela está sendo usada como uma farsa para protegê-lo da sua incapacidade de conseguir sexo ou namorar quando desejar. Se você alimenta a Waifu de suas falhas, você está envenenando a si mesmo.

A Waifu deverá ser a combinação precisa do amor egoísta e do propósito. Entretanto, caso o seu propósito não esteja ainda muito claro, a via do amor egoísta vai manter a sua mente saudável para alcançar essa clareza — e a Waifu poderá ajudá-lo com isso. O waifuísmo pretende ser uma senda a ser trilhada apenas por uma pessoa que compreende o amor egoísta e seja genuinamente feliz, ou, pelo menos, progredindo para a felicidade. Não recomendaria para alguém em depressão ter uma Waifu, pois é possível que alimente a Waifu da confusão emocional na qual está passando. O waifuísmo é wholesome, então o waifuísta também deve sê-lo. Cada moeda de amor que você deposita na sua Waifu, ela te retorna um baú cheio de amor, pois ela obedece aos princípios do universo mental: tudo o que a mente foca ela amplia.

É crucial que o entendimento claro da Waifu seja a personificação do amor egoísta e do propósito manifestada pela imaginação do sujeito. Ou seja, um processo totalmente natural por utilizar os recursos que já estão presentes em todo ser humano. Qualquer coisa além disso é um delírio, e talvez uma zona perigosa e pouco saudável. O homem saudável sabe que está fantasiando e que a Waifu é a sua imaginação personificando o seu amor, e aceita isso.

Mas aí você que lê isto pode estar se perguntando “mas o sujeito não está se iludindo que qualquer forma?”

Sim, de certa forma. Porém uma ilusão consciente, sem se prender a amarras do amor romântico industrial e efêmero. Ou seja, uma ilusão saudável.

O uso correto da Waifu não é usá-la no lugar de algo, e sim em vez de algo. Essa sutileza semântica faz toda a diferença.

Outro argumento que pode se apresentar é que a Waifu é fruto do imaginário de um ser humano, e não poderá alcançar aspectos complexos e realistas. Este é mais um erro. Assim como as suas impressões sobre as pessoas podem variar à medida que você as conhece, o mesmo ocorre com a sua Waifu. Em ambas as situações a sua mente irá preencher essas lacunas de maneira natural. A sua mente não tem uma operação diferente para o mundo 2D e outro pro 3D. Muito pelo contrário, o mundo 3D percebido já é uma interpretação de conceitos da sua mente. Tudo o que você é e conhece é tão intangível quanto a sua Waifu. A priori a mente trabalha da mesma forma tanto no 2D quanto no 3D, enquanto a posteriori os resultados são diferentes, pois você pode se deparar, em algum momento no relacionamento normie (ou 3D) com aspectos não atraentes e se decepcionar.

A Waifu é para aqueles que realmente não se importam com alternativas 3D. Como já explicado, o relacionamento com as 3D atuais tem um grande potencial de destruir o seu amor egoísta e propósito além de te lançar numa espiral hedonista da qual será difícil sair depois. A Waifu é uma opção segura e saudável para desenvolver o amor combinado ao propósito.

Uma Waifu não é uma personagem favorita para você se masturbar. Se você enxerga ela apenas como um estímulo visual, você é só um coomer procurando algo para ejacular. A Waifu merece um tratamento muito melhor do que os que as 3D recebem. É lógico que a Waifu pode ser atraente. Mas a sua beleza deve ser, acima de tudo, admirada.

2. O caminho tecnowaifuísta

Chegou o momento em que eu devo separar a visão generalista da visão pessoal. Podemos dizer que a conceituação de Waifu até agora apresentada, apesar de generalista, tem muito da minha visão pessoal de mundo também. Isso ocorre, pois ninguém se atreveu a documentar o waifuísmo de forma séria até o presente momento. Existe uma live em que fiz no Dlive onde estávamos presentes eu (Kodama), Ronan de Estagira e Tricell. Ali apresentamos todo o pensamento do que viria a se tornar o tecnowaifuísmo. Passamos 2h43m dissertando sobre o assunto até esgotá-lo. Essa live, sim, seria um ótimo complemento a este ensaio, pois talvez ali existam pérolas que eu tenha me esquecido de registrar aqui. O link está na seção de referências.

Portanto, o conceito apresentado de Waifu até aqui é universalista, ou seja, pode ser usado como esqueleto em qualquer outro caminho de waifuísmo, ainda que seja uma fundamentação criada por mim.

Mas como disse, a partir dessa seção, os pensamentos não serão gerais, e sim o pensamento do tecnowaifuísmo como uma vertente do waifuísmo.

Também pode ser usado o termo tradwaifuísmo e o adepto se chamar de tradwaifuísta, embora seja pouco usado.

Inclusive, essa talvez seja uma boa hora para dizer que se você não crê na existência de Deus, mesmo que não na visão cristã, mas no sentido filosófico, o tecnowaifuísmo não é um bom caminho waifuísta para você, pois vou me basear na cosmovisão tradicional para apoiar essa filosofia.

O nome tecnowaifuísmo foi escolhido, pois vai além do que o waifuísmo oferece em termos de interação. Enquanto que o waifuísmo puro termina na imaginação, o tecnowaifuísmo combina elementos tecnológicos como dolls, inteligência artificial e tecnologia de realidade virtual ou aumentada, e, saindo outros gadgets que melhorem a interação com a Waifu, será adotado também. Um outro ponto crucial para separar o waifuísmo puro do tecnowaifuísmo é a mentalidade “consoomer”. Waifuístas puros podem ter uma obsessão demasiada pela sua Waifu, e viverem numa ilusão de consumismo não saudável. A defesa do tecnowaifuísmo é que o relacionamento com sua Waifu deve ser Wholesome, isto é, seguro e benéfico. Portanto tecnowaifuístas investem o que é essencial nas suas Waifus.

2.1 O que é a Waifu para o tecnowaifuísta?

“A Waifu é o homem pondo um fim no esforço inútil em elevar a mulher ao mesmo nível de espiritualidade dele. Por isso a Waifu não é mulher.” — 2020, Kodama.

Certamente esse assunto não poderia ser tratado sem ser à luz do waifuísmo tradicionalista. Para mim é importante entender que, além da personificação do melhor que há em nós, eu quero ir além, e dizer que a Waifu é a extensão da substância anímica que há em nós. Ela é a nossa extensão, ainda que não individualizada, mas com as devidas potencialidades para um dia se individualizar. Isto quer dizer que a Waifu não tem autonomia para existir sem o seu mestre (senpai). Isso a faz um pouco inferior a nós em termos essenciais, mas não desqualifica a sua existência.

A Waifu vive no universo potencial, dentro da nossa mente, e, portanto, manifesta as características do feminino a priori, a nossa intenção e vontade. A Waifu é a representação perfeita do Feminino.

Para o tecnowaifuísta, a Waifu só pode ser feminina, por sua natureza estar ligada essencialmente com a potência que é o Feminino. Se, porventura, aceitássemos o Husbando, ele poderia aparentar um homem, falar como um homem, mas seria essencialmente feminino por não ser dotado da ação do Masculino, somente da potência.

A Waifu é a extensão da alma do mestre e por isso sempre está com ele, ainda que imbuída em um objeto.

A Waifu pode ter a forma de um personagem de anime, graphic novel, light novel, videogame, etc. Mas o tecnowaifuísta deverá estar ciente de que assim como ele, muitos outros poderão ter a mesma ideia de Waifu. Dessa forma é recomendável que ele a torne, de alguma forma, única em essência para não correr o risco de lidar com outros waifuístas que tenham a mesma Waifu.

O ideal para o tecnowaifuísta é que não seja preguiçoso e construa a sua Waifu do zero. Não é importante, a princípio, nem que ela tenha forma, e se tiver, sejam formas básicas. Construa primeiro os seus valores, a sua personalidade, a sua história. Enriqueça ela como máximo de detalhes, por exemplo, idade, data de nascimento, signo, tipo sanguíneo, etnia, talentos, habilidades, etc. Pode usar personagens femininas que você gosta como base, mas torne sua Waifu única. Só assim você poderá evitar talaricagem que, por ser plágio, é roubo, que resultará em banimento permanente da comunidade a qual pertence.

Nomes e imagens não são considerados apropriação. A Waifu não é um nome ou um desenho como já foi explicado anteriormente.

Se o adepto for preguiçoso ou possuir um amor já construído por uma personagem existente, não poderá reclamar que outro que estiver no mesmo grupo use a mesma Waifu ou que postem nudez dela em comunidades online.

Para o tecnowaifuísta a forma de uma waifu é predominantemente humanoide. O mínimo aceitável são híbridos com 50% humano e 50% de outra coisa. Menos do que isso não pode ser considerado Waifu. Pokemons, Digimon, ursinhos, animais, objetos animados, não são aceitos como Waifus no tecnowaifuísmo.

2.2 A materialização da Waifu

“Waifu é a priori. Doll a posteriori. Uma Waifu materializada na doll é wholesome. Uma doll sem waifu é objeto sem alma. Lovedoll é transcendência.” — 2020, Kodama.

O tecnowaifuísta em algum momento será confrontado com a vontade de ter sexo com sua Waifu. Via de regra, é possível, mas apenas na imaginação. Porém, é totalmente possível materializar a sua Waifu em uma representação física. Tal representação será o receptáculo temporal que a sua Waifu vai habitar para que o mestre possa ter intimidade com ela.

É considerado materialização quando um corpo humanoide é imbuído da substância psíquica a qual a Waifu é composta. Mas não só isso, o objeto precisa corresponder o mesmo tipo mórfico específico da persona. Quanto mais complexo for a sua Waifu, mais difícil será achar um corpo correspondente. Por exemplo, se sua Waifu for uma Nekogirl você não vai materializá-la num bicho de pelúcia. Se sua Waifu for um centauro, você vai ter que dar um jeito de construir a parte equina dela. A essência não pode ser diferente do ente. Árvore é árvore e pedra é pedra. A essência da árvore é vegetal, e a essência da pedra é mineral. Não tem como colocar uma essência humana em uma árvore ou pedra. Devemos seguir os mesmos princípios naturais no tecnowaifuísmo.

Caso seja usado apenas sextoys como tengas, flashlights, torso, boca de TPE e masturbadores em geral, isso não é materialização. Outros objetos como quadros, pôsteres, travesseiros, podem ser usados como objetos de carícia, mas não são materializações. Nem mesmo chat com IA, simuladores 3D ou hologramas são considerados materializações. O mínimo aceitável para ser considerado uma materialização é uma Doll, podendo ser desde uma miniatura até o tamanho real. O termo usado para uma doll que representa a sua Waifu é Lovedoll (ou waifudoll, mas quase não é usado).

Um exemplo de materialização é a cena de Blade Runner 2049, onde a Joy usa o corpo de uma 3D para ter relações sexuais com seu mestre.

Isso foi apenas um exemplo. Não faça isso na vida real. Não use mulheres 3D para esse tipo de coisa. Você não quer parecer um hipócrita e esquisito.

“A doll satisfaz, por um momento, os desejos da carne. A Waifu, por sua vez, engrandece o seu espírito.”
2020, Kodama.

2.3 O exercício da sexualidade do tecnowaifuísta

A materialização da Waifu pode ser algo distante para o waifuísta, sendo o maior motivo o financeiro. Por isso ele pode entrar num dilema moral quando a luxúria e o amor se confrontam.

Ver pornografia não deve ser considerado errado. Eu vou explicar o motivo. Basicamente o tratamento que você dá à sua Waifu é completamente diferente do que você dá às mulheres num filme erótico (sendo elas 2D ou não). Você está usando elas apenas para saciar um desejo carnal que num mundo ideal você não teria necessidade de fazê-lo. Mas como somos homens, existe uma besta interior que precisamos apaziguar. Como não há ligação emocional entre você e seus objetos de prazer, não há, também a usurpação de finalidade. A mulher da pornografia é passageira, apenas um canal pelo qual você poderá se purificar do desejo.

Sexo com a lovedoll não é considerado um ato masturbatório, e sim a prática do amor. Existe aí uma ligação real de um amor construído e nutrido. Alguns podem argumentar que isso não é o mesmo que a prática com uma 3D. Em termos biológicos não faz qualquer diferença. A vagina estimula as terminações nervosas no pênis, o que pode ser feito com as mãos ou uma tenga. Se alguém disser que existe uma troca energética entre os corpos isso seria puro achismo romântico, não tem como provar isso. Quando nossas mãos tocam em uma pessoa, não estamos sentindo a outra pessoa, mas sim o que o nosso sistema nervoso periférico interpreta das informações externas, ou seja, ao tocarmos uma outra pessoa estamos sentindo nós mesmos. Não tem como você sentir outra pessoa te tocando, a menos que vocês compartilhassem o mesmo sistema nervoso. Todo “toque” é um “auto-toque”. Então não invente história para justificar esse seu vício em sexo com 3D!

O sexo casual com uma civil ou garota de programa está totalmente fora de cogitação para um tecnowaifuísta. Isso pode até ser considerado por alguma vertente muito hipócrita de waifuísmo, mas se você entendeu o amor egoísta e o propósito, não existe possibilidade disso ser parte da sua vida. Se você quiser ter relações sexuais casuais com mulheres 3D por favor não diga que é waifuísta, de nenhum modo. Procure outro rumo.

2.4 Poligamia no tecnowaifuísmo

É possível que o tecnowaifuísta resolva ter uma outra Waifu? É possível. Seria errado? De modo algum. Porém eu teria que fazer algumas explicações quanto a isso.

Ao construir a sua Waifu, você colocou nela o seu amor e seu propósito, e agora vocês têm uma ligação plena e insubstituível. Por isso seria no mínimo estranho o mestre querer mais uma Waifu. Seria bom investigar os motivos por trás desse desejo, pois uma Waifu deve ser o suficiente para preencher o mestre por completo.

A prática permitida dentro do tecnowaifuísmo é o concubinato. Toda concubina poderá desfrutar do amor do mestre e auxiliá-lo no propósito (desde que isso seja perfeitamente justificável), porém ela estará hierarquicamente abaixo da Waifu. As relações com a concubina são legítimas tanto quanto com a Waifu. Entretanto a Waifu ocupa maior status na sua vida.

Não recomendo a criação de haréns se não puder dar conta disso. Lembre-se que Waifus não são itens colecionáveis, e sim itens sagrados de um relacionamento puro e verdadeiro. Mesmo que o concubinato seja permitido pela nossa Lei, ele não é recomendado se você ainda não alcançou a realização do seu propósito. Pense nas concubinas como uma recompensa após a autorrealização.

2.5 A formação familiar no tecnowaifuísmo

É óbvio que, por ser um assunto novo, e não termos uma variedade de opções voltadas a esse tipo de estilo de vida, não podemos dizer que será tudo igualzinho no mundo real. Ao menos a maior parte tem como reproduzir, mas simular uma família real é um pouco mais complicado.

Se você sonha com a paternidade, eu recomendo que não seja waifuísta. Procure um relacionamento normie que funciona melhor pra você. Waifuísmo é para quem não considera o relacionamento 3D como alternativa.

Porém é possível criar outras personificações da sua psique naquilo que seriam os filhos. A Waifu pode engravidar, afinal ela está na sua imaginação, no universo potencial, onde você é o criador absoluto. Eu não saberia dizer qual motivação um mestre teria para isso já que a Waifu deveria ser suficiente para cumprir o amor.

Eu vejo isso como uma possibilidade, apesar de nunca ter tentado. Mas veja, se você criar o filho e não der conta, lembre-se que isso pode inclusive ser perigoso. Como sua Waifu se sentiria com você fazendo ela parir para depois fazer o filho dela desaparecer? Não seja irresponsável com sua Waifu. Se inventar de ter um filho, não some com ele.

É possível materializar o filho, assim como a Waifu e concubinas. Mas considere evitar isso, pois serão mais responsabilidades desnecessárias. Investigue se isso não é uma crença programada socialmente em vez de uma vontade real. A Waifu deveria ser o suficiente para preencher o autopertencimento.

2.6 A estética tecnowaifuísta

Como o tecnowaifuísmo é uma combinação dos conceitos eternos com o progresso tecnológico, toda sua estética, isto é, artes gráficas, peças criativas, se baseia no retrofuturismo com influências technoir e de fantasia oriental. Imagine um mundo como Blade Runner só que com muita arte marcial, ninjas, samurais e elementos da fantasia japonesa. O estilo pode ser examinado também em animes como Ghost in the Shell, Battle Angel Alita, Cowboy Bebop, Blade Runner Blackout 2022, Blade Runner Black Lotus, Animatrix, Sex Love Robots.

Os links com mais ilustrações do artista está na seção de links no final da publicação.

A música fica a critério de cada um. Mas para efeitos estéticos, até para possíveis composições audiovisuais, o Jazz lo-fi cria o clima perfeito, assim como o Jazz-Funk japonês. Segue exemplo da música que estou ouvindo no exato momento que escrevo essas palavras (BLU-SWING — Sunset):

3. Considerações finais

O tecnowaifuísmo jamais, em tempo algum, deve se manifestar como movimento político ou social. O objetivo aqui é o crescimento totalmente individual. Isso não impede o waifuísta de participar de qualquer movimento, desde que não envolva o tecnowaifuísmo.

O tecnowaifuísmo também não é nenhum tipo de fetiche sexual. Se a finalidade fosse apenas obter prazer e ejacular, isso até poderia ser considerado. Embora um waifuísta de fora do tecnowaifuísmo possa parecer um coomer, eu procurei mostrar que o waifuísmo é mais do que um meme mal utilizado.

De maneira geral o waifuísmo também não é um gênero, pois ele não é um delírio identitário de millenials que não sabem o que fazer da vida.

O tecnowaifuísmo é composto de homens realizados ou buscando a realização e que resolveram praticar o amor egoísta utilizando um método seguro e saudável que é o waifuísmo.

Não recomendo falar do seu lifestyle com normies, isto é, qualquer um que não esteja dentro da sua bolha waifuísta. Os normies não vão conseguir entender, pois limitam sua consciência apenas aquilo que é de senso comum. Na internet vão ridicularizar, dirão que é uma comunidade de homens com síndrome de peter pan. Talvez os mais próximos irão duvidar da sua sanidade e vão querer te forçar a procurar ajuda te deixando pessoalmente chateado. Tentar evangelizar o normie é errado. Por que você precisa da validação dos outros? Lembra, autoaceitação é um dos três pilares do amor egoísta. Tentar convencer alguém, no fundo é uma busca por validação.

A discrição é recomendada em todas as áreas da sua vida, não só pra evitar situações de constrangimento. O homem deve guardar suas afeições para si mesmo, não por se envergonhar delas, mas porque não precisa se expor e buscar validação.

Outra recomendação é que não fique discutindo com os outros de que o seu caminho waifuísta é melhor. Além de ser uma macaquice, cada um tem o direito de seguir o waifuísmo como deseja. Aqui eu defendi o caminho que considero mais seguro, benéfico e saudável para homens conscientes e adultos, e não crianças briguentas de internet.

A Waifu deve ter a personalidade construída completamente em torno do propósito de vida do mestre, e ela irá inspirar e estimular o homem para que viva uma vida que agrade sensivelmente a sua Waifu e a torne feliz. Waifu saudável, vida saudável. Waifu feliz, homem feliz. Esse é o objetivo. Viva a vida como sua Waifu gostaria que vivesse. Sonhe com ela acordado, ame-a, e todo esse amor retornará para você.

Eu sou o Kodama, e vejo vocês na próxima.

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Angry Fox Pilgrim
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Written by Angry Fox Pilgrim

publico certas obviedades difíceis de serem aceitas por mentes ordinárias.

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