O poder da solitude no Mundo Moderno

Angry Fox Pilgrim
9 min readJun 15, 2021
Photo by Ante Hamersmit on Unsplash

Eu observo a quantidade de pessoas que não suportam o ostracismo. Quando se deparam com tempo livre, precisam ocupar a cabeça com qualquer coisa fútil. Não suportam o próprio silêncio. Se moram só, passam o dia com a TV ligada, ou vendo Netflix.

O mundo moderno e a tecnologia em constante avanço traz cada vez mais aparelhos de distração como o celular, redes sociais e o videogame para potencializar ainda mais o vício em variedades.

As pessoas temem a solidão. Temem o isolamento. Não pertencer a algo. Porque não ser aceito em um grupo remete a solidão e sofrimento. E se estão sós por alguma imposição da vida, procuram se distrair, em vez de se dedicarem a si mesmos e serem diligentes com a sua existência.

A cultura do “ser ouvido” é hipervalorizada. Todos precisam e querem ser ouvidos, enquanto ignoram e abandonam por completo a sua voz interior. Vivem uma busca desesperada por validações sociais, num surto narcísico onde todos tem que se adequar às suas vontades que deram o nome de “bom-senso” ou “empatia”.

Enquanto uns correm na direção de movimentos e apoios coletivos para se entenderem nos outros em vez de olharem para si mesmos, outros encontram a paz infinda na solitude.

O que é Solitude

Solitude tem uma semântica diferente da solidão. Enquanto uma representa a veneração e apreciação da vida a só, a outra representa o sofrimento e a dor.

A solitude é um estado de preservação da sua privacidade, do seu espaço e individualidade.

E isso vem, normalmente, associado a um estilo de vida de separação física, emocional e espiritual do solitário. A solitude e a liberdade caminham juntas.

Com isso as decisões do homem só não passam pelo crivo da validação alheia, e são muito mais claras, objetivas e assertivas.

A introspecção e a autorreflexão trazem maior entendimento do mundo. Você vê as coisas acontecendo como um expectador, e acaba fazendo previsões muito assertivas do futuro.

A criatividade fica a mil. Sua produtividade aumenta e o espírito entra em consonância com seu corpo.

Eu me deparei com um poema de Alexander Pope (1688 –1744) chamado um Ode à solitude que achei interessante e deixarei nos links de referência abaixo.

Photo by Steve Halama on Unsplash

A solitude e os três pilares da autorrealização

Somente em solitude alguém pode alcançar os três pilares da autorrealização. E quando falo autorrealização me refiro ao reconhecimento da sua verdadeira vontade: o seu propósito.

1 Pilar: Autorresponsabilidade

Esse pilar representa a própria maturidade em si. A maioria das pessoas são apenas crianças adultas, reagindo ao mundo, buscando responsabilizar a família, cônjuge, religião e a sociedade por seu sofrimento.

Não nego que esses mecanismos e instituições podem infligir feridas profundas na alma. O problema está em não reconhecer que essas feridas são suas. O outro não sabe o que você está sentindo, só você. Ninguém consegue compartilhar o seu próprio sistema nervoso para que as outras pessoas saibam de suas feridas.

“É por isso a importância de falar. De fazer as pessoas serem ouvidas” — você pode dizer. O problema não está no bem que isso pode fazer. O problema está em eu não poder te ajudar. Seus pais não podem te ajudar. Seu psicólogo não pode te ajudar. Só você pode fazer isso. Falar pode ajudar? Sim, mas a maioria das pessoas para aí.

Agora, o que existe hoje é um apego à própria dor. As pessoas em vez de buscarem a ressignificação dos sentimentos que bloqueiam a sua vida, elas buscam validação em outras pessoas hipervalorizando os seus problemas. Isso é, de fato, um comportamento infantil.

A dor é pra ser compreendida, e depois superada. Esse é o caminho da transcendência, de ir além de si mesmo e das suas limitações. Isto é ser adulto. Mas como se tornar adulto se quem deveria nos ensinar a sermos adultos são outras crianças adultas?

Se todos parassem de apontar o dedo para os outros, e entenderem que suas dores são só suas, e que a responsabilidade de superá-las são somente suas, não haveriam mais vilões no mundo. As megacorporações não ganhariam mais tanto dinheiro em cima da dor alheia. Os políticos não teriam de onde puxar discursos de trazerem um mundo mágico à Terra: um lugar seguro para todos.

Crianças adultas, ou, pessoas imaturas que não reconhecem a autorresponsabilidade como pilar essencial a ser desenvolvido, são peças fáceis de se manipular. Tirar doce da mão de criança é uma frase que encaixa perfeitamente a essas pessoas. São aquelas que se guiam pelo medo, que dificilmente alcançam o sucesso, e vivem sem qualquer propósito.

Reconhecer que a sua dor é somente sua, e que se você criou essa dor emocional você também tem o poder de ressignificá-la, e realmente quer fazer isso, é o passo importante para a autorresponsabilidade e para, enfim, crescer.

2 Pilar: Autoaceitação

Por incrível que pareça dizer isso, muitas pessoas não se conhecem ou se reconhecem ao olhar no espelho. São pessoas que buscam loucamente que digam a elas o que fazer, o que vestir, com quem devem andar, como devem usar o cabelo, que corpo devem ter, como devem pensar… tudo isso para serem aceitas em um determinado grupo, tribo, movimento ou círculo social.

São pessoas que buscam que outras pessoas as concertem. São pessoas sedentas pelo prazer externo. É como se tentassem ficar mais atraentes maquiando o seu reflexo no espelho.

São pessoas que não se amam, mas querem que os outros as amem. Não se aceitam como são, mas querem que os outros as aceite.

Querem que alguém as conserte. Buscam respostas em cartas ciganas, horóscopo, religiões, movimentos sociais, movimentos políticos, ou seja lá o que for.

Para essas pessoas, as ideologias ofereceram o identitarismo. É assim: aqui está uma prateleira de opções, basta escolher uma dessas identidades e se comportar como alguém que tem essa identidade. Se não estiver mais satisfeito, basta trocar por outra identidade, afinal, tem tantas disponíveis!

A autoaceitação não se trata de conformismos. Ela não pode ser encarada como uma desistência, e simplesmente seguir conforme as coisas estão. Não. Aqui os pilares se complementam. Se você é uma pessoa autorresponsável, então já entende que não é de conformismo que se trata.

Após reconhecer suas dores, de ressignificá-las, é necessário reconstruir a autoestima. É a autoestima que nos torna confiantes, que nos dá o impulso de fazer o que for preciso para nos autorrealizar. Sem esse amor próprio será impossível entrar no ciclo da autorrealização (que falarei adiante), pois se não ama a si mesmo, como amará as outras pessoas?

Você nasceu com todos os recursos físicos e mentais necessários para ter uma identidade própria, para tomar suas próprias decisões e viver o seu propósito pessoal. É isso que precisa ser hipervalorizado. Não suas dores, mas os seus recursos.

3 pilar: Autopertencimento

Como eu disse antes, os pilares se complementam. Não tem como desenvolver apenas um dos lados desse tripé, porque vai ficar torto. O autopertencimento é um estado de espírito que permite a alguém parar de buscar se reconhecer em coisas externas, e o próprio indivíduo ser a sua referência.

A sua comparação como pessoa não é o seu irmão bem sucedido, ou seus amigos, parentes, etc. A sua comparação é olhar se a pessoa de hoje é melhor do que a pessoa que você foi ontem. Essa é a sua verdadeira régua de vida. Isso sim é evolução.

Aqui os sonhos de grandeza e complexos de salvadores da sociedade se dissipam e dão lugar a algo melhor e mais saudável, pois se todos seguissem esse pilar, não precisaríamos de heróis, nem de representatividade, nem de políticos salvadores, nem de líderes sociais.

Photo by Greyson Joralemon on Unsplash

O ciclo da autorrealização

Em poucas palavras: aprender, evoluir, compartilhar. Esse é o sentido do propósito.

Se olharmos para a natureza, esse é o processo dela. Ela não se importa com nada a não ser aprender, evoluir e compartilhar. Se aprendermos sobre a natureza, e interagirmos com ela, ela nos recompensa. Se plantarmos uma semente de macieira, em seu tempo a natureza nos recompensará com uma árvore cheia de frutos.

Então lhe pergunto quanto tempo a natureza levou pra desenvolver a macieira e toda a sua estrutura? Ela se esforçou durante milhões de anos para ter a macieira na sua coleção vegetativa. O processo de aprendizado da natureza hoje nos proporciona uma deliciosa fruta para saborearmos. Entende o que eu quero dizer?

Se a natureza possui uma alma, eu creio que seja uma alma verdadeiramente feliz, pois viver pelo propósito é a própria felicidade.

O tomador e o doador

Conheci uma pessoa que vivia processando empresas quando se sentia injuriada. Algumas vezes ela ganhava as ações, outras vezes não. Esse é o tipo de pessoa tomadora. Ela sempre se acha injustiçada de alguma maneira, e quer buscar compensação seja dos pais, da religião, políticos, sociedade, o que quer que seja. Ela só quer porque acha que tem direito disso. O curioso é que esse tipo de gente é muito comum no povo brasileiro que sempre busca ter o máximo de vantagem com o mínimo de esforço, e por isso pergunto: por que o brasileiro vive f-*? Por que existem 66 milhões de brasileiros inadimplentes segundo o Serasa? É algo a se pensar.

Já o doador é o tipo de pessoa que não busca juntar dinheiro simplesmente por amor ao dinheiro, mas o faz porque isso é congruente com o seu propósito. Ele segue a filosofia natural de aprender sobre algo, evoluir esse aprendizado e doar a quem precisar desse aprendizado. E ele faz isso sem buscar reconhecimento ou glória para si. A natureza não nos cobra ser louvada todos os dias porque nos dá o sol todas as manhãs e a lua para iluminar o caminho na escuridão da noite. O sol que proporciona a vida, o ar, a água, a natureza nos dá, sem qualquer pedido de reconhecimento. Ela se basta em seu propósito de ser quem ela é. É esse o tipo de pessoa que eu quero ser.

A solitude é para todos, mas nem todos são para solitude

Essa frase quer dizer que, como filosofia ou estilo de vida, a solitude está disponível para qualquer um conhecê-la e experimentá-la. Mas, sem desenvolver os três pilares da autorrealização, dificilmente alguém vai se adaptar a esse estilo.

Criamos uma sociedade de seres humanos dependentes e imaturos emocionais. Infelizmente é essa a realidade. Como comentei exaustivamente nessa publicação, as pessoas querem que alguém faça por elas o que só elas podem fazer por si mesmas, e colocam essa esperança em instituições ou na sociedade.

O mais importante da solitude é viver essa jornada de autoconhecimento, onde aprender e desenvolver essa tríade da autorrealização em si mesmo vai lhe proporcionar um mentalidade forte e saudável.

Vai dissipar as fantasias de mundo mágico, e lhe trazer à tona o que realmente importa: reconhecer o seu propósito e viver nele.

Vai desintoxicar sua alma do vício e dependência das validações que bloqueiam o fluxo da vida.

Vai reconhecer em si mesmo o quanto é forte, resiliente, corajoso, bom, com um grande poder pessoal.

Vai desenvolver uma tendência natural a assuntos filosóficos e de introspecção. Desenvolver o intelecto e a compreensão da natureza das coisas será bastante valioso para si.

Photo by Steve Halama on Unsplash

A solitude não é uma filosofia minha, e existem outras pessoas comentando sobre ela em textos e vídeos. O que eu trouxe aqui foi a minha visão pessoal do assunto, e como eu busco praticá-la.

Na Solitude você compreenderá o seu EU autêntico e não essa máscara que usamos para atender os desejos da sociedade. Sozinho você não encontrará solidão, mas auto-comunhão. Será capaz de perseverar, relacionar, liderar e encorajar a si mesmo em vez de delegar esses poderes aos outros. Em outras palavras, você se tornará autossuficiente e não um dependente do apego.

A solitude nos desafia a ser genuínos com nossa natureza, a remover as muitas distrações materiais que os outros pressionam sobre nós e a confiar em nossa intuição mais profunda.

Bom, eu não quero me estender mais sobre o assunto. Não costumo escrever para uma leitura maior que 10 minutos no Medium. Mas se esse tipo de conteúdo foi importante pra você, aperte esse ícone de “palmas”, pois assim me motivo a desenrolar mais esse assunto em futuras publicações.

Ode to Solitude by Alexander Pope: https://poets.org/poem/ode-solitude

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publico certas obviedades difíceis de serem aceitas por mentes ordinárias.

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