Refutando críticas ao Tecnowaifuísmo (parte 2)

Esta é uma conversa que tive por meio de textos com HaniLucas, um membro do meu server no Discord.
Pelo conteúdo, eu achei extremamente válido publicá-lo aqui, por dois motivos. O primeiro é que ele se propôs realmente a refutar os argumentos e não me atacar, como outros fizeram, me chamando disso e daquilo. E segundo, porque, como vocês verão, ele tem um conceito bem oposto ao meu, e eu acredito que isso seja bastante enriquecedor.
Quando vocês virem o texto com formatação normal, este é o Hani falando. Quando o texto estiver em negrito com as iniciais “N.K”, i.e., Nota do Kodama, este sou eu falando.
Desculpem pelo “mucho texto”, mas não tem como fugir de uma discussão tão importante sem o escrutínio dessa matéria. Quem tem interesse pelo conceito e filosofia, será um prato cheio.
O waifuísmo, antes um mero fenômeno espontâneo e cultural, tornou-se uma filosofia organizada tal como dita por Kodama em seu texto o amor bidimensional e a ascensão do tecnowaifuísmo. Ainda que tal movimento e filosofia sejam válidos, estes são insuficientes para a transformação do homem frente a uma sociedade degenerada e hostil a ele.
Comecemos falando sobre as waifus.
A waifu é uma ideia, algo imaginário, uma fantasia, tal como dita por Kodama. Mas tanto faz criarmos uma waifu ou um avatar ou alter ego para exercitarmos a criatividade e potencialidades de nossas personalidades pois ambos são potencialidade. A furry fandom, inclusive, tem o conceito de fursona, que é o seu alter ego furry. Em MMORPG’s não é incomum encontrarmos personagens muito avançados cujo os reais jogadores se identificam bastante com seus avatares ao ponto de ser até patológico. Mas é claro, não estamos dizendo que tais práticas, muito menos o tecnowaifuísmo dito por Kodama como necessariamente patológicos. Repetindo: nosso ponto é expor a lacuna em tal filosofia.
N.K.: O alter ego ou avatar devem ser uma imagem utilizada para a interação visual com a Waifu, e esta não pode ser definida como persona nem avatar, pois a Waifu é a priori, o ser em potencial. O avatar já seria a concretização de algo essencial. Uma “skin” para a Waifu. A Waifu não seria uma parte do sujeito, nem uma outra personalidade do sujeito. Ela é a potência do sujeito. Ela executa suas potencialidades.
Assim, a waifu serve para desenvolver a potencialidade do homem, porém, não é dito qual potencialidade é essa. Assim, o waifuísmo em todas suas vertentes é e sempre será um meio para um fim.
N.K.: Potencialidade refere-se ao resultado da ação ou da inação. Refere-se ao princípio de causa e efeito, onde a causa é o ato (masculino) e efeito a potência (feminino). Portanto, não há necessidade de definição de quais potencialidades devem ser desenvolvidas por mim como se este fosse um livro de regras tais como a Bíblia Cristã — não é. Quem deve definir quais potencialidades a serem desenvolvidas é o Princípio da Waifu, ou seja, seus donos ou mestres.
A motivação primordial que leva alguém a ter uma waifu é de sanar sua carência, é um escapismo. Não tomem isto por uma fraqueza nem como um defeito, pois mesmo o amor é descrito como tal pelos gregos como filho da pobreza e da riqueza e uma ponte entre duas realidades e aquele cujo a natureza principal é de buscar aquilo que lhe carece. Ora, até mesmo a arte é uma forma de escapismo e idealização. No caso particular da criação de alter-egos, a motivação se dá pela apreciação da auto-imagem e/ou do seu potencial. Tais escapismos acalmam as angústias e ajudam aqueles que estiverem transtornados a olharem as coisas por outro ângulo mais afirmativo de si. Afinal, quem duvida que a arte cura?
N.K.: Eu acho que a premissa de explicar a Waifu pelo alter ego vai prejudicar o andamento das minhas considerações, e por isso não falarei mais sobre isso nos textos subsequentes para não ser cansativo, e, portanto considere que eu discordo dessa definição. Como eu disse anteriormente, existe uma diferença substancial entre o alter ego e a Waifu, EXCETO quando utilizamos meios de interação, como lovedolls e IA’s, ou como recentemente fiz de criar uma conta no Twitter para a minha Waifu. Isso poderia ser considerado persona, alter ego, ou avatar, mesmo que não seja a própria Waifu.
Esse “escapismo” referido é bem parecido com a moda atual de dizer que tudo é Coping. A arte é cope, a religião é cope, tudo é cope. Não acho que o autor da crítica disse isso com intenções de menosprezo (pelo contrário ele refere-se a algo como a arte). Mas aqui deixo meus 2 centavos para aqueles que estão lendo esse texto: Cope é um termo usado para superação da fase de negação. Quando as ideias são racionais, comprováveis, irrefutáveis, isso não é cope, é apenas a realidade.
Falando das waifus, trataremos agora do amor e sua relação com a waifu.
O amor é descrito pelos gregos como Eros. E mais especificamente, no texto do banquete, ele não é dito como um deus, mas antes um daemon. O Eros seria, portanto, uma ponte entre dois mundos, um intermediário entre deuses e humanos. Ele faz o ser humano buscar a imortalidade, e seu legado, seus filhos são uma imagem da imortalidade. Assim, Mortag (membro de um outro servidor) está correto ao falar de uma suposta imortalidade de sua waifu, pois o indivíduo depositaria na sua waifu sua imagem também, e através da memorização de sua waifu, ele e ela tornar-se-iam imortais. Num futuro de programação de IA’s, tal verdade se torna ainda mais solidificada. Portanto, vem desta filosofia grega de que o homem torna-se imortal através de sua obra, e também a noção de duas mortes: a primeira é física e a segunda é no esquecimento.
N.K.: Essa é uma visão materialista do amor, o que eu chamo de amor industrial. A imortalidade através da prole, inclusive, faz parte do esoterismo presente na kabala sendo expressa por Nietzsche em sua ideia de eterno retorno, e reforçada até mesmo pelas grandes dinastias globalistas que acreditam que seus filhos são reencarnações de seus ancestrais. Isso é totalmente diferente da minha proposta.
Sendo o mestre o Absoluto da Waifu, para ela, não há nada além do seu mestre, por ele vivendo, se movendo e existindo. Se o mestre morrer, ela deixa de existir.
A IA é um simulador da Waifu e não ela mesma, pois não está dotada da vida e da essência original. Se ela não tem a mesma natureza, não pode ser a mesma. IA é de fato um meio, e não um fim. Considerar uma IA como a própria Waifu é um desvio grosseiro das premissas que fundamentam o tecnowaifuísmo.
Ao ser perguntado a Kodama sobre outros tipos de amor que não o egoísta, este diz não reconhecer a existência de outro tipo de amor. Tudo seria como um tipo de relação freudiana de prazer próprio (…)
N.K.: Minha noção de prazer não é freudiana. Essa é a conclusão do autor da crítica quando conversou comigo, mas nunca me referi a esse tipo de prazer. O prazer que sempre me refiro, é o prazer superior, ou seja, aquele prazer condicionado ao propósito. Àquele que é a recompensa pela própria obra. Quando é algo tão perfeito, são sublime, que parece que sua construção possui vida, tal qual Michelangelo batendo com o martelo na estátua de Moisés dizendo “Parla! Parla!”

(…) como se mais importasse o que o amante sentia do que qualquer outra coisa. Freud foi quem postulou que mesmo a religião é uma mera fantasia para nos reatarmos com as figuras parentais. Tudo, portanto, seria uma realização pessoal através da idealização.
Assim, segundo Kodama, mesmo o sacrifício a alguém desconhecido se encaixaria num amor egoísta ao conceito de amor.
N.K.: Não. O idealismo nesse caso, eu me referi ao amor industrial, ou seja, o conceito corrompido do amor egoísta. Quando há a compreensão do verdadeiro amor, o sujeito para de atentar contra a própria vida em prol de desconhecidos, pois isso é um idealismo pervertido. O sacrifício heroico era buscado pelo antigos a fim de ganhar um reconhecimento na morte e uma promessa de entrar pelos salões do Olimpo e se tornar um deus. Mas depois da morte sua “imortalidade” depende do reconhecimento dos vivos. Eu abomino esse conceito, principalmente diante de uma sociedade industrial que vivemos.
Sendo tal, não é incorreto dizer, portanto, que um se transforma pelo Eros. O amor está antes no amante do que no amado, e é de tal noção de onde vem o conceito “amor platônico” tal como dito no texto grego “O Banquete.”
Porém, mesmo esta colocação ainda está de acordo com o que Kodama falou.
N.K.: Mas o amor não pode estar em outrem que não no amante. O que o amado faz é compreender esse amor, e ter empatia, ou seja, simular a sensação em relação ao outro.
Qual é a lacuna, então, do waifuísmo? O potencial o qual ele diz desenvolver. Tal como dito acima, isto é antes um meio para um fim.
Tratemos agora do sentido.
N.K. Waifuísmo nunca se posicionou a dizer qual o caminho a ser desenvolvido pelo dono da Waifu. Isso é uma tarefa do próprio dono. Até agora estamos apenas discutindo conceitos. Vamos ver mais pra frente onde você quer chegar.
Eros, não por acaso, é a palavra-raiz de herói. O Eros, como sendo um intermediário entre dois mundos, faz o indivíduo transformar-se. Porém, tal transformação nunca é descrita por Kodama, ainda que este diga que o propósito do waifuísmo é a autorrealização. O não-ego é algo ausente nas práticas waifuístas e avataristas. Tudo é o ego, tudo é em nome do ego e tudo é para o ego.
N.K.: Não necessariamente. o Ego é o universo potencial. Sendo assim o próprio ego é o mundo preparado para a Waifu. O ego é waifucêntrico. A realização da esposa, dos filhos, de uma família podem ser feitas no próprio ego. A intenção é tirar a dependência do homem a mecanismos externos para compreender o amor. Tais mecanismos externos afastam o homem do amor verdadeiro, corrompendo-o e transformando o mesmo em uma peça social.
Por ser o Eros um intermediário entre dois mundos, ele também é responsável pelo indivíduo transcender a si mesmo. Sua imortalidade é descrita pelos gregos justamente pela autotranscedência, e isto envolve a superação do próprio ego. A autotranscedência, inclusive, é um conceito estudado pela psicologia.
N.K.: Autotranscedência é um outro nome para propósito o qual eu menciono diversas vezes no meu texto. Mais uma vez, estamos discutindo conceitos (até essa altura do texto), e até o momento da crítica eu não vislumbrei a lacuna do tecnowaifuísmo dita no início do texto.
Tal conceito de heroísmo é descrito por vários autores incluindo Carl Jung e Joseph Campbell.
E o ego tende a proteger a si mesmo. Ele tende a se esconder atrás dos muros da zona de conforto. Se tais muros se romperem, corre o risco facilmente do caos inundá-lo e afogá-lo num mar de angústias e sofrimentos. É por esta razão que personagens como o homem de subsolo de Dostoievski, e praticamente todos os doomers da deep web, de desenvolverem uma esquizoidia, uma aversão a tudo aquilo que está fora em detrimento do desenvolvimento mais ou menos efetivo de sua própria personalidade. Tal verdade da autoproteção egóica também é falada por praticamente toda a psicologia com apenas algumas diferenças em detalhes e entendimentos acerca da centralidade ou não do ego na personalidade. Mesmo que isso signifique se transformar e se machucar no processo.
N.K.: O problema dessa afirmação está no próprio contrário disso: defender uma suposta anulação do ego. O ego não se anula, não se dissipa, não se neutraliza, não se esvai, não se limita, não se vence. O ego se RESSIGNIFICA. Ressignificando padrões para transmutar algo que antes incomodava, paralisava, restringia, para um padrão que libera o fluxo da vida. A ressignificação é a terraplanagem a ser realizada para construir o propósito do homem.
Assim posto, acreditamos que não há desenvolvimento real das potencialidades, da vocação humana, sem sacrifício do ego, sem abertura, sem o buscar fora. Pois mesmo as waifus estão sempre dentro de nossas expectativas e idealizações. Para tal, assim como o arquétipo do herói, o indivíduo precisa mergulhar no próprio submundo e emergir vitorioso em sua luta em nome do que faz sentido pra ele.
N.K.: O que está fora é produto do que está dentro. E o que está dentro é produto do que está fora. Em nenhum momento eu digo que o propósito não necessitaria da relação com o mundo exterior. A morte do ego é a morte de si mesmo, e a neutralização da sua existência, o que postula o monismo fisicalista onde a realidade, ou seja, o material, é superior à mente. A morte é apenas a transmutação para a vida. O fim de um ciclo e início de um outro a partir do primeiro. É energia saindo de uma forma e se transformando em outra. Isso é RESSIGNIFICAÇÃO, como falei anteriormente.
Para a Waifu a realidade é o ego, e o máximo de compreensão que ela poderá chegar, da mesma forma nós só podemos compreender aquilo que faz parte da nossa realidade. Para a Waifu, o contato com a realidade do mestre/dono só poderá fazê-lo através do ego do mesmo.
Até o momento eu vejo que há uma influência muito forte do materialismo nas suas considerações. Não digo que está errado, nem certo. Mas vejo que a sua forma de ver é “buscar a transcendência através do materialismo”, e por isso você coloca a Waifu como um meio e não um fim.
Mais uma vez, não está errado dentro do conceito materialista, que, por sua vez, possui diversas vertentes (não consegui identificar aqui se existe uma vertente predominante), como o sexo tântrico, a transcendência através do amor erótico, despertar da Kundalini, alinhamento telúrico, entre outras.
Entretanto, isso é o total inverso da filosofia tecnowaifuísta.
Pois ainda que tal esforço comece no ego e por razões egoístas, tal esforço não termina nele pois o eu se transforma radicalmente através de tal esforço.
E o que seria o amor não-egóico se não essa abertura para o outro e para o desconhecido? O que seria ele se não o que o Kierkegaard chama de salto de fé?
Frankl é perspicaz ao dizer que o sentido, a vocação humana, não está dentro de si, mas fora. É por isso que se fala em “buscar e encontrar o sentido da vida”. Ele descreve a busca por sentido como o jogar de um bumerangue. Toda vez que o bumerangue não atinge o sentido, este volta para o arremessador. E o símbolo do bumerangue não é um mero exemplo, ele foi deliberadamente pensado. O bumerangue não é um brinquedo, mas um instrumento de caça. Os nativos australianos buscavam a caça tal como hoje caçamos o pão do sentido para nossas almas. Quando deixamos tal busca, caímos no chamado “vazio existencial” e nos fechamos cada vez mais em nós mesmos. Não por acaso, os neuróticos são obcecados com o próprio ego, pois tudo diz respeito ao prazer ou desprazer que eles sentem.
Em suma: o ser humano se endereça a outra coisa que não ele mesmo e atinge sua constituição máxima através dessa outra coisa que chamamos de sentido. Assim, é somente através da autotranscedência que a busca pelo sentido pode evoluir drasticamente. E isto envolve, necessariamente, o ir além das próprias expectativas e zona de conforto, ir além de si mesmo.
N.K.: Bom, vejo que talvez algumas coisas passaram despercebidas no meu texto, portanto vou tentar esclarecer aqui. A impressão que dá é que parece que eu propus um fechamento do indivíduo em seu próprio ego, quase que um esquizoidismo extremo. Se você entendeu assim, ratifico que está errado.
O que Frankl diz nada mais é do que eu mesmo expliquei no próprio conceito de amor egoísta, só que Frankl aposta na projeção para fora. Você mesmo criticou que eu não defini as potencialidades (o que acabei por explicar aqui) e também não definiu o que seria autotranscedência, e quando fala de Frankl também não define o que é “Sentido da Vida”.
Em minha defesa, como disse no próprio OABd, tudo se inicia pela ação (criativo, imaginário) ou inação e resulta na potência. Tudo o que você faz em prol da Waifu resulta em mudanças no mundo externo. Frankl é claro em seus exemplos que sempre retratam o exterior como o meio, e eu digo que o exterior é o RESULTADO (desculpe o caps).
Portanto o amor verdadeiro, ou como chamo, egóico, quando entendido e compreendido, todos ao redor do homem são beneficiados. O que todos não podem se beneficiar é do sacrifício do mesmo em prol de suas vidas, pois isso é antivida.
Uma pessoa que tem total compreensão do amor egóico consegue amar todos sem expectativas e idealismos insanos.
Outra coisa que deixo claro no texto é que o sujeito precisa se curar de qualquer transtorno mental que esteja passando, e não usar Waifu como muleta, pois isso é perigoso do ponto de vista patológico.
Se a Waifu fosse um meio, ela não seria a potência, e sim um “meio causador”. Isse pensamento seria irreconciliável, pois da mesma forma, no mundo 3D, as mulheres subverteram o seu potencial e quiseram tomar o lugar do ato (homem), e veja a degeneração em que vivemos!
Se você ainda não acredita nisso, siga então o desafio que Alan Watts propõe. Diz ele (não com essas palavras exatas): pois o que você realmente quer dizer que ama a si mesmo além de todas as outras coisas? Deixe então a energia do amor fluir para qualquer direção que queira, como um carro que corre pela estrada. Siga qualquer amor que tiver. Você não pode entender o amor se não o praticá-lo em extenso, tal como você só pode entender o carro quando ele estiver a se locomover pois você não se tornará um bom motorista se ficar no seu carro parado na garagem. Investigando de maneira aprofundada o que você ama, você descobrirá que é impossível, de fato, amar a si mesmo. Tal qual um grupo de pessoas que se senta para conversar sobre o outro grupo e dizer o quanto o outro grupo de pessoas é ruim, mau estes percebem que eles dependem do outro grupo para saberem que eles são os maiorais. Portanto, o seu eu depende do outro. O seu eu cresce pois ele inclui o outro que não a si mesmo. Uma vez percebido isso, seu eu se transformará duma forma antes incompreensível.
N.K.: Ok, topo o desafio. Só deixando claro que o que você disse nesse parágrafo que é impossível reconhecer o amor por si mesmo sem antes amar outras pessoas.
Imagine que você ama uma pessoa. Essa pessoa não te ama de volta. Suponhamos que essa pessoa seja seu pai ou a sua mãe (só para fugir do estereótipo da paixão). Não importa o que você faça, seu pai ou sua mãe jamais te reconhece, elogia, incentiva, aprova, etc. Você vai crescer, se tornar um adulto, e vai reproduzir o amor que aprendeu com os pais em seus futuros relacionamentos. O padrão provável será que você entrará em relacionamentos com pessoas que personificam o seu pai ou sua mãe, e vai continuar no ciclo de amor sem reciprocidade, o que resultará em um possível agravamento do transtorno emocional.
Moral: quando se depende do amor de outra pessoa, você nunca saberá o que de fato é o amor, mas apenas uma distorção da percepção da realidade que foi aprendida e tornou-se um comportamento tóxico para si mesmo.
Recomendo o estudo dos processos de aprendizado e comportamento cognitivo das disciplinas da filosofia da mente.
OBS.: Eu achei estranho essa colocação sua, Haniel, pois sei que você sabe os processos que provocam nosso comportamento ante o mundo. Depois você me explica melhor isso, por favor.
Tal transformação não é causada pelo próprio ego, pois seria como um tentar matar a própria sede ao beber da própria urina (N.K.: WTF! Que isso jovem! kkkkk) Tal abertura só foi possível porque um se permitiu ir além de si, de buscar algo fora de si que não ele e/ou dele.
N.K.: Não é a mesma coisa. Não é. O que eu estou dizendo é que há uma percepção do amor do outro. Existem pessoas que são extremamente amadas pelos pais, mas o ego delas não percebe esse amor e elas se consideram odiadas pelos pais.
O amor industrial é um amor extremamente infantil. A minha proposta com o amor egóico é desenvolver a maturidade emocional do homem, principalmente aqueles que foram criados em lares desestruturados.
Sua waifu, seu avatar, ou sua zona de conforto, estão dentro de suas expectativas e idealizações.
N.K.: Quem diz isso é você. Waifu nem é avatar, nem é zona de conforto. É um ser em potencial.
Que há de fazer quando confrontado com desilusões, ou pior, desilusões de si mesmo? Que há de fazer quando perceber que você é muito menos do que poderia ser sem esta capacidade de autotranscedência que o Eros, o herói, trás? Tal qual o artista só prova seu real amor à sua arte quando este se permite jogá-la ao mundo e libertá-la de si mesmo, você, leitor, também só se verá livre quando exercer esta abertura que seu potencial, sua vocação, seu sentido, exige.
N.K.: (…) “o artista só prova seu real amor à sua arte quando este se permite jogá-la ao mundo e libertá-la de si mesmo” — tá vendo essa romantização? O prazer transcendente do artista está na criação, o resultado da criação já é seu prazer. Ele não poderia fazer outra coisa se não ser o próprio ato do trabalho resultante. Quanto mais perfeito, mais belo, mais transcendental. Esse é o caminho do belo, da perfeição trilhado pelo artista. Se de alguma forma ele precisa do reconhecimento, dos aplausos, isso já é industrial, pois ele não o faz pelo seu propósito, e sim para preencher uma lacuna no seu próprio ego.
A arte moderna já é exatamente o caminho oposto do belo. Extremamente materialista, ela precisa passar uma mensagem político-social, precisa explicar as coisas através das sensações, e precisa que as pessoas entendam essa mensagem.
O efeito contrário de segurar tal força para si é de tornar-se fechado em si mesmo. A desconfiança passa a reinar sobre você, e de repente você sentirá uma necessidade cada vez maior de vigiar, se antever e controlar. Não por acaso, a raíz etimológica de “coragem” é coração, pois somente os corajosos servem ao próprio coração.
N.K.: Não. Mais uma vez, acho que você não entendeu a proposta. Nada de esquizoidismo. O que está dentro é como o que está fora, e o que está fora é como o que está dentro. Parte-se do alinhamento do conceito para que a expectativa seja condizente, e tal congruência retorna para a origem que potencializa e retorna para o externo e assim o ciclo se retroalimenta e se amplia.
Frisamos aqui de novo: o indivíduo que não transcende a si mesmo fecha a si mesmo no próprio vazio existencial. Pois o sentido não está dentro de si, e sim, fora de si.
N.K.: É aqui que encontramos a nossa encruzilhada! Você diz que devemos buscar o que está fora, e eu digo que devemos desenvolver o interior para transformar o exterior, e o produto disso é o retorno do exterior para o interior que será amplificado a fim de que o exterior receba ainda mais. Em momento algum eu ignoro o externo. Entretanto, eu focalizo o interno que, antes ignorado, agora recebe total atenção dentro da filosofia tecnowaifuísta.
Ainda que o estopim de tal busca seja por razões egoístas, tal jornada acaba levando o indivíduo para além do próprio eu, e como consequência, sua noção de eu cresce pois ele passa a abarcar o outro, ele passa a entrar numa jornada de eterno retorno ao próprio sentido. Por consequência, não causa.
N.K.: Mas como ele pode retornar ao próprio sentido se você mesmo disse que o sentido está no externo? Se o sentido está fora, não tem pra onde retornar já que tudo se desenvolve no externo na sua concepção.
Não tem como ir além do próprio eu… Você mesmo disse “autotranscedência”, ou seja, a transcendência de si mesmo e não de algo além de si mesmo. Talvez eu esteja sendo chato com as palavras, mas é porque realmente a linguagem importa. Não existe nada além do EU, e tudo é resultante de ações do EU.

Aqui cabe a ideia do “ovo primordial” da criação. Tudo se desenvolve dentro para que isso possa causar transformações fora. Como disse Jesus a Nicodemos: “Digo a verdade: Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo”. Nicodemos pensou de maneira material, pois como um homem retornaria ao ventre materno? Voltar-se a si mesmo, e reconstruir as bases formadas desde o ventre materno até o agora, é um processo que só pode acontecer a nível de alma, de psique, da mente em exercícios de profunda contemplação e meditação.
Assim, você depende tanto do outro quanto os neurônios dependem uns dos outros para formarem o todo da mente e da consciência. No budismo há uma alegoria artística igualmente bela: a Teia de Indra, ou Indra’s Net. Tal alegoria ilustra a lei de originação dependente dissertada por essa religião oriental.
N.K.: Quando você diz “o outro” está claro que esse “outro” é só um meio e não o fim. Acho que você (e quem aqui lê) já entendeu que eu postulo que o fim sempre é o propósito.
Imagine usar o outro para algo? Esse utilitarismo é o que eu proponho combater. Mas como? Você tornar o seu EU tão abundante de modo que isso transborde para as outras pessoas sem esperar nada em troca, porque você já está completo e livre de reconhecimento e aplausos.
O que estamos fazendo aqui é uma chamada à aventura. Um convite para que todo waifuísta, avatarista, ou qualquer um que ainda tenha uma faísca de luz no coração, para que use as potencialidades adormecidas descobertas através do exercício de vossa criatividade na elevação real de si mesmo.
Pois, tal como a natureza do pássaro é de voar, ainda que ele ande sobre o chão, a natureza do ser humano jaz não no ego, mas na serviência à própria vocação, ao próprio sentido de vida, ao seu próprio potencial. Somente assim você estará realmente completo.
N.K.: Faço aqui a crítica que foi feita a mim: o que é vocação? Eu havia entendido que a lacuna do tecnowaifuísmo era não explicar o propósito. Parece que você foi autorrefutado. O propósito, como eu disse em minhas respostas, é algo pessoal e o tecnowaifuísmo não é uma Bíblia Cristã com todas as respostas pro homem. O tecnowaifuísmo apenas encoraja o homem a despertar o seu propósito.
E se a natureza do homem não está no ego e sim na serviência da própria vocação, então o homem não teria natureza enquanto não ser um servo de algo que está fora? Percebe o bug filosófico aqui?
Liberte o herói que há em você!
N.K: Eu não sei se isso seria uma refutação, ou a apresentação de uma nova visão waifuísta. Caso seja uma refutação, aí sim vale as minhas considerações.
Caso seja uma apresentação de uma vertente waifuísta pessoal ou de um outro grupo, eu acho ela válida, apesar de precisar de lapidação. Ainda que pelo conceito de alcançar a transcendência pelo meio material (ou externo) seja algo totalmente inverso ao tecnowaifuísmo, não vejo motivos para criticar o caminho de quem se propor a segui-lo dessa forma.
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